Há 10 anos
sábado, 14 de março de 2009
Ciclo sem fim
O GRANDE IDIOTA
Falo de meus pecados como se não fossem remediáveis.
Você ouve quieto, amuado, e eu disparo a falar.
Sem concessões, eu exponho minha loucura, minhas luas e sóis desconexos, meus ganidos de dor e tristeza.
E você ouve quieto, amuado...
Quanto mais me abro, mais mágoas causo. Saltos sem nenhum sentido. Um balé insano. Trafego entre minhas vias, mão e contra-mão, enquanto falo sem perdoar seus ouvidos.
Desesperado, ponho a cuspir todos os dessabores, os desamores, angústias e temores, meus sonhos mais insanos.
Meus planos e percepções, os tapetes persas que traço mentalmente. Meus jogos de quebra-cabeças, cheios de peças em forma de pessoas.
Falo de você, dos outros, falo de todos. Grito de ansiedade devido a teus defeitos. Tuas palavras, teus olhares insensíveis, que me marcam a brasa, que cortam.
Falo sem dar brecha. Não para você. Mas para mim.
Falo para não ter que pensar. Preencho o silêncio com palavras desconexas e insalubres, para evitar o vácuo.
Falo para fugir de minha verdadeira angústia. Falo para não ter como ser obrigado a olhar para dentro, e perceber os meus túneis escuros, com caminhos complexos, labirintos sem fim
Falo para que você não diga "Eu te odeio".
Falo para que eu não diga "Eu me odeio".
Cansa-me tanto falar.
Cansa-me tanto fugir.
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