sábado, 29 de agosto de 2009

Maldito contador de momentos...




TEMPO

Senhor de todos os caminhos
Lei da impermanência e transmutação
Tão extenso quando estamos sozinhos
E veloz na animação

Relógio guia
Que diz que a vida
É em apenas uma via
Do começo ao final
Como ter um livro
E acabar em só uma lida

E no fim
Apenas resta a questão
Pra que diabos eu vim
Não vejo explicação
Para o que eu tenho sentido
A sensação de tempo perdido
Tanto pelo pedido temporal
Como pela dedicação incondicional

Tempo constante
Dançante
Ri da minha descrensa
Cantarolante
E ainda tem quem pensa
Em usar relógios nos braços
Hilariante
Sentir os pulsos no pulso
Sensação ilusória de controlar
Desconcertante
E o tempo inexistente passa a me arrastar
Seu sorriso é falso
E me entristece
Agonizante
Me esquece
A prece
Sufocante
Mais tempo adiante
Adia ante
Uma arte de evitação
Barreira no coração
Um coração em couraça
E o tempo me despedaça
Em montantes de areia
Teu olhar que semeia
Angústia em ponteiros
Lembranças modificadas
Alegrias inacabadas
Os minutos mudaram as cores
E agora só há dessabores
Lendo esse desabafo
Num extenso parágrafo
Pergunto se toda a tua cena
No fim valeu a pena

Despedida involuntária
Mas foi necessária
Esse é meu adeus definido
Para um medo mais que descabido

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Um pedido de ajuda


PRECE


Faço uma oração desesperada
Porém para mim não peço nada
Desejo apenas que haja compreensão
Bem no fundo do seu coração

Sei que teus olhos buscam este recanto
Ainda sente um pouco do encanto
Mas já basta
Sua dor nefasta
Irá cobrar o preço de ser traído
A lamentação dum anjo caído

No momento de maior dor
É quando consigo me impor
E ajoelho sem ressentimento
Não dou voz pra este sentimento
Mãos unidas com um motivo
Mostrar pra ti que ainda vivo

Num mundo cheio de tristeza
Onde o mal é a maior grandeza
Talvez seja um ato egoísta
Apenas querer o bem
De um alguém
Peço que não insista
Que pare com minha prece
Mesmo sabendo
E até entendendo
Que logo você me esquece

Mas que não perca da tua mente
O ensino de braveza
Lição pra que tu enfrente
A mais forte correnteza

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Como água e óleo...




AMOR E MEDO


Fala-se de amor constantemente
Como uma matraca
Incessantemente
Um barco de idéias que se atraca
No cais do senso comum
Em toda minha honestidade
O de muitos não me traz apego algum
Buscam extrema facilidade

Fala-se de amor constantemente
Na espera de um consolo
Eu lhe afago vagarosamente
Buscando afugentar o medo
Mãos que tentam afastar o dolo
Porém
Este é sólido como um rochedo

O amor não mata o medo
E o medo elimina o amor
Isso pra mim não é segredo
Mas é algo que causa muita dor
Buscando sempre uma reparação
De um passado descabido
Perde-se o reparador
Sem perceber que o teve perdido

Fale então de amor
De forma constante
Mas fale de forma vibrante
Sem se entregar ao temor
A lamúria de um final
Pode se tornar real
E chorar do que era criação
Será sua única opção

domingo, 9 de agosto de 2009

Nadando pelo ar...




GOTAS


Maldito teto permeável
Lhe condeno a execução
Não sou nem um pouco maleável
Mas fiel ao coração

Por suas frestas navegam
Mil gotas todo dia
Pontos de água que trafegam
E caem na maior alegria

Me sentia numa perfeição fajuta
E subitamente o som conhecido
Gotas no chão bagunçando minha labuta
Trazendo tudo aquilo que foi esquecido

Acode o chão e ponha uma bacia
Salve-o deste gotejar
Solo vermelho como melancia
Que desanda a lamentar

Fico olhando a goteira
Não adianta meu praguejo
O céu não tem uma torneira
Isso é tudo que desejo

Que fechem as portas do divino
E então parem as trovoadas
Pois trazem meus medos de menino
Medo das coisas abandonadas

Água que apaga o fogo
Então dorme menininho
Vê se esquece esse jogo
De no fim sempre ficar sozinho

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Soltos no paraíso



DESCRENSA


Ouvi dizer outro dia
Numa conversa entre anjos
Que todos nossos desarranjos
Geram apenas agonia

Ouvi dizer outro dia
Numa conversa entre anjos
Que só encontra a verdadeira alegria
Aquele que enfrenta a dor
Que é tão forte quanto cem marmanjos
Prontos pra lhe encher de pavor

Ouvi dizer outro dia
Numa conversa entre anjos
Que quando se ama vale a pena
Não tem como hesitar
Mas sempre há quem encena
Uma ópera que faz chorar
Quando o tal amor empena

Nesse mesmo outro dia
Na mesma roda de anjos
Me falaram "Não tema"
Que eu devia dar perdão
Pra quem foge de problema
E não podia achar bobagem
Aquela clara falta de coragem

Eu disse que achava complicado
Seguir este conselho sem igual
Estou por demais traumatizado
Nem mesmo a força angelical
Parece dar conta dessa descrensa
Será mesmo que compensa
Amar e rezar
Para que a dor não apareça
Ou na solidão lamentar
De temer que ela cresça

Então nesse dia
Vieram até a mim os anjos
E clamando por harmonia
Tocaram trezentos banjos