terça-feira, 23 de junho de 2009

Sopros e sons



CONSORTE


Acaba a folha
Tento virar a página mas
O caderno chegou ao fim
De espanto digo "Ai de mim!"
E minha poesia inacabada
Como fica?

"Não se preocupes"
O sibilo congelado
Vem assim, meio de lado
Não pareço ter sorte
É a morte
Com sua presença forte
Anuncia que tem chegado

"Não pode terminar o sonho de um poema"
Tento, em uma fútil argumentação
Muito tenho para escrever
Sinto-me cheio de vida!
"Isso não deve ser um problema"
Vem a Morte me dizer
"Ainda tem muita coisa a ser lida"

"Mas as minhas rimas são diferentes!"
Clamo, em desespero
"Não são", retruca o Ceifador
"São os mesmos contentamentos descontentes"
E a fala me falha
"Se sua pena só cria curvas sinuosas de tristeza"
"Se flertas tanto com o sepulcro"
"Não deverias temer quando a morte é certeza"

E então, de sobressalto
O grito
Baixo, porém logo se torna alto
E então, as lágrimas
Não há morte do meu lado
E eu entendo o seu recado
Morri antes mesmo de morrer
Ao viver uma vida sem viver

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