
SOMBRA
É fim de tarde. Aquele período aonde fica claro e escuro ao mesmo tempo. Aonde o sol começa a perder sua força, mas ainda emana aqueles resquícios de calor e luz.
Um jovem procura uma sombra. Ele anda a esmo por um parque, na frente da minha casa. Me indago sobre suas intenções. Já está tão tarde, e ele anda, senta embaixo de uma árvore, procura uma sombra, e depois levanta, e repete o processo.
Seu andar é curioso. É como se não tivesse destino definido. Ele anda de forma despreocupada, olhando para baixo, sem nem se questionar se algo vem em sua direção. Então, subitamente ele para, e se senta.
Como se os ventos o empurrassem, e ele se deixasse levar.
Eu fico ali observando por horas. Ele caminha a praça inteira, sentando em todas as sombras possiveis. Já é quase noite, e já não existem mais sombras: tudo está tomado pelo véu da escuridão. As únicas sombras, agora, são as criadas pelas luzes dos postes.
Estas parecem não servir pra ele. Com que de repente, ele para, e se abaixa, sentando no meio da praça.
E ele se encolhe, abraçando suas pernas. Como se quisesse se proteger de algo. Como se quisesse lamentar sozinho.
E isso me comove, de certa forma.
Desperto, então, de meus devaneios. Já não há jovem na praça. Na verdade, nem há praça.
Só existe eu e minhas lembranças.
Lembranças de um jovem que buscava ser acolhido em qualquer canto.
Minhas memórias mais escondidas.
E então, fecho a janela.
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