segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cercado

AVES DE RAPINA


Para um transeunte
É apenas a natureza em ação
Esperam que eu me junte
Pegue os pedaços do coração

Chega um momento
Que se entristece
Sem nenhum intento
Simplesmente... acontece

E os males ficam a espreita
Como aves de rapina
A pessoa mal suspeita
Quão trágica será a tua sina

Basta um segundo
Um leve dissabor cotidiano
E você atrai todo um mundo
É muito fácil ficar insano

Já nem sei do que reclamo
No solitário momento de tristeza
Talvez seja isso que eu amo
Viver imerso na incerteza

E no escuro da meia-noite
Rezo pela redenção
Dos pássaros e teu açoite
Mas só encontro decepção

Como um prédio desmoronado
Ande nem vigas se firmam
Fico aqui desgastado
Pelas mazelas que se armam

Amargura sem igual
Mas... logo passa
Até o próximo vendaval
Não importa o que faça

Mais uma vez...



DÉJÀ VU


Mais uma vez conta-se a história
A história conta-se mais uma vez
Conta-se mais história uma vez
Uma vez conta-se mais história

A repetição da repetição da repetição da repetição...
Farto
Sentimentos tolos e indisciplinados
Que teimam em me fazer de idiota
Mares vermelhos são cortados
Tudo soa como uma anedota

Mais uma vez...
Mais uma vez...
Mais uma vez...

Brinco de repetir o repetido
E busco nisso tudo um sentido

No final a lembrança plena
Serei apenas uma página virada
Aonde as cores permanecem na retina
Mas minha pintura é tão inacabada
As mãos que folhearam o livro outrora
Agora buscam uma vida mais serena
Antes este sorriso de menina
Era meu

As cores mal feitas
Que não encontrarão um lar
Mas eu sei que amanhã
Meu capítulo estará também virado
E minhas malas nem estão desfeitas
Pois o novo conto já estou a relatar
É idêntico ao anterior
Isso me deixa inconformado

É o retrocesso
Repetir o processo
A sensação de regresso
E só o que peço
De você nunca me despeço...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ainda bem que é quase imperceptível



SUSSURROS DE UM EGOÍSTA


Lamentação constante
Porém olhe pro lado
Não verá uma fonte de lamento
Mas a boca incessante
E o olhar cabisbaixo
Já entrega o veredicto
És um egoísta convicto

Reclamar do reclamar
E o vazio esvaziar
É a lida diária
Contemplação exclusiva
Do negativismo
Um grande niilismo

Me sinto culpado
Tanto a celebrar
E o poço ainda me atrai
Me sinto cansado
Tanto a completar
E o vazio me esvai
Me sinto soterrado
Tanto pra alegrar
E meu corpo me cai

Nos momentos de angústia
Apenas a certeza fúnebre
De uma incerteza
Me falta grandeza
Até para certo estar
E então sussurro para mim mesmo
Num sopro infinito do lamentar

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Meu novo chão




CACOS


Ando descalço por cacos
E gosto do barulho
Uma sensação gostosa de quebrar
Dor é para os fracos
Intacto
Neste espaço compacto
Está o que preciso

Espelhos infinitos
Criados por mãos humanas
Homens brincando de divino
Meus olhos ficam esquisitos
Mas passa
O susto de menino

Minhas pegadas marcam
Como palavras ao relento
Embora tenha aqueles que olham
Só ouço o farfalhar do vento
Solidão
Me faz companhia
E se sente só

Com os cacos monto quadros
Imaginários
Tenho várias imagens
Para agradar os ordinários
Bastardos mentirosos
Cuspo em todos
E rio dos olhares raivosos

Cansa-me caminhar pelos cacos
Mas não tenho escolha
Pra poesia falta-me folha
Compor o fim da melodia
Mas se o papel a vida não fornece
Vidro ela dá em demasia