segunda-feira, 23 de março de 2009

Auto-crítica

PALAVRAS



Uso poucas palavras
Nas frases
Pra relatar
Todas as minhas fases
Repito várias até a exaustão
Precisava de um dicionário
Melhorar minha criação

Uso poucas frases
Nos meus escritos
Sigo sempre meus ritos
Construindo minhas rimas
Meus vícios são como imãs
Atraem sem perdão
A repetição

Uso poucas idéias
Na minha textualização
Perceba eu repetindo
O truque da continuação
Começo igual se seguindo
Tudo jogado em valas
Minha insegurança regrada
E a última linha colocada
Não encaixa nas outras

Uso tanta coisa
Porém é tudo igual
Mas eu só conheço um jeito
Não faço isso por mal
Meu sentido imperfeito
Me diz pra fazer assim
E me imito sem fim
Mudar parece impossível

Tanto nos temas
Quanto nas formas
Os mesmos esquemas
E também as normas
Aquilo que crio
Reflete o meu eu
Agora faz muito frio
Coração se adormeceu
Porque são duas da manhã

quinta-feira, 19 de março de 2009

Rufem os tambores




MARCHA DA SOLIDÃO


E eu que fico aqui sentado
Prostrado
E eu que fico entregado
Esquecido em meio a um véu de sombras

E eu que fico aqui sentado
Surdo mudo e cego
Eu tento
Me desapego
Mas nada adianta
Me entrego

E eu que fico aqui sentado
Risadas forçadas
Faces maquiadas
Falta pouco para desistir

Em meus cantos
Desafinados
E escondidos
Aonde passo dias a me crucificar
Sendo que bastava não bater
Os pregos

Um mar entre os pontos
Impossível se conectar
Linhas não traçadas
Porém planejadas
E não executadas

Canto só a minha marchinha
Mas sei que outros aí
Fazem os seus cantos
Abarrotam-nos de sentimentos
Desgarrados
E montam suas cruzes
Com cobertas na janela
Para tampar as luzes

E enquanto eles se escondem
Fico aqui pensando
Porque eu fico aqui sentado
E não estou caminhando

domingo, 15 de março de 2009

Momento raro




ENTREGA


Diante de minha barreira
Luz de um candelabro
Eu me abro
Ignoro minha cegueira
Faço o impossível
O infazível
Que é o fazível inventado
Meu caos interno apartado
Inventando em cima
De algo já criado

Choro não por faltar um riso
Mas por receio
Veja que eu friso
Peço o que anseio
Um momento de paz e sossego
Envolvido por seu apego

Não é algo de tanto valor
Vale menos de um centavo
Mas com ele sinto tanta dor
Pra dentro eu escavo
Só queria um cantinho
Bem quentinho
Aonde você pudesse chegar
E quisesse ficar
E quisesse...

Agora que já fiz a entrega
Não tem volta
Um segundo
E pronto
Sinta minha revolta
Minha fúria que lhe prega
Por bagunçar o meu mundo
Tonto

Se for jogar fora
Pra sair mundo afora
Deixe uma nota pregada
Feito uma pegada
De que alguém segurou
Tal coisa tão inválida
Sabendo que não se importou

Na nota por favor
Escreva de forma direta
"Não quis este bem imprestável
Me causou muita aflição
Tentei de forma imensurável
Apaziguar este coração
Mas por dentro ele é tormento
E não suporto mais tanto lamento
Para aquele que ousar
Ter a audácia de o segurar
Fica aqui um aviso
Seu mal é sentimental
Farpas de um jeito preciso
Cuidado é fundamental
Ao manusear esta peça
Por menor que ela meça"

sábado, 14 de março de 2009

Ciclo sem fim




O GRANDE IDIOTA


Falo de meus pecados como se não fossem remediáveis.

Você ouve quieto, amuado, e eu disparo a falar.

Sem concessões, eu exponho minha loucura, minhas luas e sóis desconexos, meus ganidos de dor e tristeza.

E você ouve quieto, amuado...

Quanto mais me abro, mais mágoas causo. Saltos sem nenhum sentido. Um balé insano. Trafego entre minhas vias, mão e contra-mão, enquanto falo sem perdoar seus ouvidos.

Desesperado, ponho a cuspir todos os dessabores, os desamores, angústias e temores, meus sonhos mais insanos.

Meus planos e percepções, os tapetes persas que traço mentalmente. Meus jogos de quebra-cabeças, cheios de peças em forma de pessoas.

Falo de você, dos outros, falo de todos. Grito de ansiedade devido a teus defeitos. Tuas palavras, teus olhares insensíveis, que me marcam a brasa, que cortam.

Falo sem dar brecha. Não para você. Mas para mim.

Falo para não ter que pensar. Preencho o silêncio com palavras desconexas e insalubres, para evitar o vácuo.

Falo para fugir de minha verdadeira angústia. Falo para não ter como ser obrigado a olhar para dentro, e perceber os meus túneis escuros, com caminhos complexos, labirintos sem fim

Falo para que você não diga "Eu te odeio".

Falo para que eu não diga "Eu me odeio".

Cansa-me tanto falar.

Cansa-me tanto fugir.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Águas que me levam

MAR ADENTRO


Quando o mundo acabar
Você vai fazer falta
Saudades de te tocar
De rir da sua voz alta

Quando o mundo acabar
Eu quero um grande abraço
Nada disso vai importar
Exceto o que desfaço

Quando o mundo acabar
A música será eterna
Não precisaremos falar
Felicidade é interna

Quando o mundo acabar
Não sentirei mais seu toque
E irei lamentar
Uma falta de enfoque

Quando o mundo acabar
Vou abrir o meu antro
Coração a se desmontar
E nadarei mar adentro

Nessas águas sem amor
Eu me afogarei
Sem ter pena da minha dor
Pro fundo eu irei

E então nada tema
Esse é o meu problema
Mal posso esperar
Pra quando o mundo acabar

quinta-feira, 12 de março de 2009

O errado do errado do errado

TROPEÇO


Falho
Nas minhas mãos um retalho
Falta pouco pra viver
Mas já era
Antes de perceber
Destruo tudo sem espera

Campos metafísicos de admiração
Desejos perturbadores
Bajulação
E em seguida admiradores

Tuas mãos que se exploram
Deslizam por caminhos conhecidos
E bem recebidos
Risos que não demoram
Falsos
Passos dados descalços

Eu traio sua confiança
Você não dá a mínima
Até ri
E então eu percebi
Minha própria desesperança

Mandos e desmandos
Todos errados
Sentimentos escarrados
De forma visceral
Meu eu mais animal
Domina minhas mãos

Não espero que entenda
Falta-me direção
Essa linha que emenda
Minha auto-destruição

terça-feira, 3 de março de 2009

Confortavelmente anestesiado




OLHAR


Grandiosamente falando do meu olhar para a parede

Sensação de importância decrescente

Preso em uma rede

Desminto constantemente o meu eu

Meu juíz interno apenas nega minhas acusações

E me manda para uma prisão própria

Meus cadernos de poesias, rasgados, entulhados em um canto

Meus lápis quebrados

Minhas mãos, atadas

Sono...

Apatia decorrente de uma estranheza

E grandiosamente falo de meu olhar para a parede

Como uma fagulha de esperança

O último ramo de uma árvore em estado terminal

Não se mova

Esqueça das sensações do vento em seu rosto

Existe apenas um espaço entre mim e você

Que nunca será preenchido

Um vão de sonhos e idéias

De promessas e valores

Aonde trafega um rio de incertezas

E eu vejo isso tudo

Sem nenhuma grandiosidade

Apenas com o olhar fixo na parede

Despedaçada e cheia de buracos

Esperando ver uma ponta do sol

Mas ele não vem

Não agora

E nem jamais...

domingo, 1 de março de 2009

Tons que destoam

CANÇÃO DE AMOR



Essa é uma canção
Sem ritmo nem poesia
Retirada do coração
Temperada com maresia

Música dissonante
Alegria entristecida
Muito impressionante
Sua face enrubescida

Fala-me de amor
Mas falta sua entrega
Com medo de sentir dor
Então tu não se apega

Meu violão não tem cordas
Uso ele pra entoar
Um lirismo de cores pardas
Cantar sem encantar

Com um lápis que não escreve
Traço letras imaginárias
Não penso em ser breve
Noite sem luminárias

Quem sou eu para cantar
Sobre algo tão profundo
Jogo pronto pra empatar
No lamaçal mais imundo

Flor que logo morre
Esse era meu presente
Vejo que você corre
Por algo que pressente

Travas para falar
Do mais puro sofrimento
Minhas mãos a afagar
Seu rosto cheio de lamento

Só não espere tons de romance
Nessa canção de amor
Olhe pra mim de relance
E verá minha falta de cor